quinta-feira, 8 de abril de 2010

São as aguas de março desaguando em abril...


Águas de Março


Tom Jobim

É pau, é pedra, é o fim do caminho

É um resto de toco, é um pouco sozinho

É um caco de vidro, é a vida, é o sol

É a noite, é a morte, é o laço, é o anzol



É peroba do campo, é o nó da madeira

Caingá, candeia, é o MatitaPereira

É madeira de vento, tombo da ribanceira

É o mistério profundo, é o queira ou não queira



É o vento ventando, é o fim da ladeira



É a viga, é o vão, festa da cumeeira

É a chuva chovendo, é conversa ribeira

Das águas de março, é o fim da canseira



É o pé, é o chão, é a marcha estradeira

Passarinho na mão, pedra de atiradeira

É uma ave no céu, é uma ave no chão

É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão



É o fundo do poço, é o fim do caminho

No rosto o desgosto, é um pouco sozinho

É um estrepe, é um prego, é uma ponta, é um ponto

É um pingo pingando, é uma conta, é um conto



É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando

É a luz da manhã, é o tijolo chegando

É a lenha, é o dia, é o fim da picada

É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada



É o projeto da casa, é o corpo na cama

É o carro enguiçado, é a lama, é a lama

É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã

É um resto de mato, na luz da manhã



São as águas de março fechando o verão

É a promessa de vida no teu coração



É uma cobra, é um pau, é João, é José

É um espinho na mão, é um corte no pé



São as águas de março fechando o verão,

É a promessa de vida no teu coração



É pau, é pedra, é o fim do caminho

É um resto de toco, é um pouco sozinho

É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã

É um belo horizonte, é uma febre terçã



São as águas de março fechando o verão

É a promessa de vida no teu coração

pau, pedra, fim, caminho

resto, toco, pouco, sozinho

caco, vidro, vida, sol, noite, morte, laço, anzol



São as águas de março fechando o verão

É a promessa de vida no teu coração.

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